ONU: Eventos climáticos extremos afetam segurança alimentar de 74% dos países da América Latina e do Caribe
31 janeiro 2025
Lançado por cinco entidades das Nações Unidas nesta segunda (27), o relatório Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição 2024 mostra que pelo menos 20 países da região (74% dos analisados) enfrentam alta frequência de eventos climáticos extremos, indicando uma exposição significativa.
O relatório afirma que a América Latina e o Caribe é a segunda região do mundo mais exposta a eventos climáticos extremos, atrás apenas da Ásia. A exposição a eventos climáticos extremos, como secas, inundações e tempestades, reduz a produtividade agrícola, altera as cadeias de suprimento e aumenta os preços dos alimentos, colocando em risco os avanços na redução da fome e da má-nutrição na região.
O relatório da ONU mostra que a fome afetou 41 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe em 2023, representando uma redução de 2,9 milhões em relação a 2022 e de 4,3 milhões em relação a 2021. Essa redução é atribuída à recuperação econômica de diversos países da América do Sul, por meio de programas de proteção social, esforços econômicos pós-pandemia e políticas específicas que visam melhorar o acesso aos alimentos.
Os padrões variáveis do clima e os eventos extremos estão impactando negativamente todas as dimensões da segurança alimentar e reforçando outras causas subjacentes da má-nutrição em todas as suas formas na América Latina e no Caribe, de acordo com o Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição 2024. O relatório, publicado nesta segunda (27), afirma que a América Latina e o Caribe é a segunda região do mundo mais exposta a eventos climáticos extremos, atrás apenas da Ásia.
Na região, pelo menos 20 países (74% dos analisados) enfrentam alta frequência desses eventos, indicando uma exposição significativa, e 14 deles (52%) são considerados vulneráveis devido à probabilidade de aumento da subalimentação em função desses fenômenos. O impacto dos extremos climáticos é agravado por desafios estruturais persistentes, como conflitos, desacelerações econômicas e crises, além de fatores como altos níveis de desigualdade, falta de acesso a dietas saudáveis e sua inacessibilidade, e ambientes alimentares não saudáveis.
Segundo o relatório, entre 2019 e 2023, a prevalência da subalimentação aumentou 1,5 ponto percentual em todos os países afetados pela variabilidade climática e eventos extremos. A situação é ainda mais grave em países que enfrentam recessões econômicas. As populações mais vulneráveis são desproporcionalmente impactadas, pois têm menos recursos para se adaptar.
O relatório destaca a necessidade urgente de acelerar ações para desenvolver a resiliência nos sistemas agroalimentares, que são críticos para o progresso da região rumo à eliminação da fome e da má-nutrição em todas as formas. Garantir a sustentabilidade de longo prazo dos sistemas agroalimentares é essencial, diz o documento.
Fome e insegurança alimentar diminuem pelo segundo ano consecutivo
A fome afetou 41 milhões de pessoas na região em 2023, representando uma redução de 2,9 milhões em relação a 2022 e de 4,3 milhões em relação a 2021. Apesar dos avanços regionais, existem disparidades entre sub-regiões. A prevalência da fome aumentou nos últimos dois anos no Caribe, alcançando 17,2%, enquanto se manteve relativamente estável na América Central, em 5,8%.
A insegurança alimentar moderada ou grave também apresentou avanços pelo segundo ano consecutivo, caindo abaixo da média global pela primeira vez em 10 anos. Em total, 187,6 milhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar na região, 19,7 milhões a menos que em 2022 e 37,3 milhões a menos do que em 2021.
Essa redução é atribuída à recuperação econômica de diversos países da América do Sul, por meio de programas de proteção social, esforços econômicos pós-pandemia e políticas específicas que visam melhorar o acesso aos alimentos.
Ainda assim, a insegurança alimentar afeta de forma mais acentuada grupos como comunidades rurais e mulheres, com a persistência de uma elevada desigualdade de gênero na região, acima da média global.
Custo e acesso a dietas saudáveis
A região ainda apresenta o custo mais elevado para uma dieta saudável em comparação a outras partes do mundo, chegando a 4,56 dólares PPC por pessoa ao dia, enquanto a média global é de 3,96 dólares PPC. Como consequência, 182,9 milhões de pessoas na região não conseguem acessar esse tipo de dieta.
Em 2022, 27,7% da população regional não teve acesso a uma dieta saudável. No Caribe, 50% da população foi impactada pelo alto custo; na América Central, a taxa foi de 26,3%, e na América do Sul, 26%.
O desafio da má-nutrição frente à variabilidade climática
No evento de lançamento do relatório, o subdiretor geral e representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, Mario Lubetkin, ressaltou: “A variabilidade do clima e os eventos extremos são uma ameaça à estabilidade da segurança alimentar e da nutrição” e acrescentou a importância de implementar uma resposta integrada, baseada em políticas e ações que fortaleçam a resiliência dos sistemas agroalimentares.
O relatório aponta que, em 2022, 22,3% das crianças menores de 5 anos no mundo sofreram de atraso no crescimento. Na América Latina e no Caribe, essa prevalência foi estimada em 11,5%, bem abaixo da média global, mas os avanços têm desacelerado nos últimos anos.
Além disso, 5,6% das crianças menores de cinco anos no mundo estavam acima do peso em 2022, enquanto na América Latina e no Caribe esse número foi de 8,6%, 3 pontos percentuais acima da média global. A região também enfrenta uma aceleração mais rápida nesse indicador, especialmente na América do Sul.
Outro ponto crítico identificado é o acesso econômico limitado a dietas saudáveis. Em 2022, 182,9 milhões de pessoas na região não podiam pagar por uma dieta saudável, embora tenha havido uma melhora de 2,4 pontos percentuais em relação a 2021, o que significa que 14,3 milhões de pessoas a mais puderam acessar essas dietas.
Conclusão e desafios futuros
O relatório enfatiza a necessidade de acelerar os investimentos e ações para fortalecer a capacidade dos sistemas agroalimentares, priorizando populações vulneráveis e expostas a eventos climáticos extremos.
Sobre o relatório
O Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição é uma publicação que apresenta uma atualização sobre a situação da segurança alimentar e da nutrição na América Latina e no Caribe.
O relatório é fruto de um trabalho conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPS/OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP, na sigla em inglês).
Para saber mais, acesse a página do Panorama 2024 em português e faça o download da publicação completa (em inglês ou espanhol).
Contato para imprensa:
- Luiza Olmedo, Comunicadora do Escritório da FAO no Brasil: Luiza.Olmedo@fao.org
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